sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Isso não me representa

A ascensão do pastor Marco Feliciano à presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, no começo deste ano, com suas declarações consideradas homofóbicas e racistas, gerou um enorme bafafá. De repente, essa comissão, que não havia jamais recebido mais que duas linhas no noticiário, se tornou o epicentro do cosmos. Não se falava de outra coisa: celebridades, manifestações públicas e, claro, o bordão "Marco Feliciano não me representa" virando meme nas redes sociais.

Graças à polêmica, a expressão "não me representa" entrou no cotidiano das pessoas, passando rapidamente a ser aplicada a qualquer outra coisa. Páginas no Facebook foram criadas para detratar tudo o que "não nos representa". Os presidentes da Câmara e do Senado, técnicos de futebol, times de futebol, órgãos públicos e até o Eike Batista tiveram seus nomes acrescentados com o "não me representa" postados na rede ou em matérias jornalísticas. A expressão claramente rompeu os limites da questão da representatividade parlamentar para atingir qualquer coisa que nos cause aversão.

Identificar coisas e pessoas que "não nos representam" é relativamente fácil. Determinar se os princípios e valores que alguém prega e os princípios e valores que realmente regem suas ações são condizentes com os nossos é tarefa nem tão difícil assim. Se você é tolerante com a diversidade, alguém que não seja é facilmente identificado. Se você é honesto, alguém que desvia dinheiro público e chama qualquer oposição de perseguição política não despertará nenhuma identificação com você. Se você não joga um papel no chão, alguém que o faça
não o "representará". Podemos discutir então a validade de sair tascando etiquetas com o "isso não me representa" em tudo com o quê você discorda. Talvez tenha sua utilidade, para mostrar seu caráter, já que, para Goethe, "nada prova mais o caráter de alguém do que aquilo que ele odeia", mas quando a coisa se torna uma moda, dá vontade de dizer: quem perguntou?. 

Mas acredito que o exercício mais eficaz e urgente não é esse, de identificar e rotular tudo que não nos representa, e sim pensar nas pessoas, nos valores e nas instituições que nós não "representamos". E deveríamos representar. 

Em II Crônicas 7:14 o povo de Deus é chamado de "o povo que se chama pelo meu nome". Por outras palavras, o povo de Deus é o povo que O "representa". O terceiro mandamento diz que é um pecado tomar o nome de Deus em vão, frisando a importância de representar a Deus dignamente. Jesus odeia a figueira com flores e sem frutos porque ela ostenta algo que não é. As pessoas que andam ao redor da figueira vêm as flores e acreditam que ela é do tipo que dá frutos. Mas quando chegam perto se decepcionam. E então elas passam a ter outro conceito sobre figueiras em geral, passam a desconfiar das flores.

Jesus narra o dia em que muitas pessoas vão lhe dizer tudo o que fizeram no nome dEle e, contudo, receberão um "não vos conheço" em resposta. "Não vos conheço" é o "você não me representa" de dois mil anos atrás.

Pense em como você usa seu tempo livre, no que você faz quando acha que ninguém está olhando, nas coisas que seus atos, e não suas palavras, dizem que são mais importantes para você. Pense em suas prioridades reais nessa vida e então responda: a quem você representa?


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