sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Bem vindo ao Reino

Tem dias em que o caminho parece alto demais. Seguir ao Cristo implica em dar frutos como amor, temperança, paciência e outras coisinhas inalcançáveis num mundo de ódio, egoísmo, competição e intolerância. Ontem na livraria vi um livro que ensina a como usar seus "instintos primitivos" a seu favor nos negócios e uma ou duas prateleiras acima livros que falam sobre ser um líder servidor ou que Jesus foi o maior líder que já existiu. Tem dias em que aqueles parecem mais verossímeis que estes.

Tem dias que você é tentado a pensar que o caminho é para uns poucos privilegiados. Os que não são apaixonados por uma picanha sangrando ou por uma cerveja gelada. Os que têm menos hormônios correndo nas veias. Tem dias em que você pensa que os que parecem estar no caminho são, na realidade, hipócritas com esqueletos no armário.

Um dia Jesus assentou-se num monte e começou a dizer coisas absurdas. Disse que felizes são os pobres de espírito, os que têm o coração dilacerado, os que têm que abaixar a cabeça para as injustiças do mundo, os que são perseguidos. Estes, disse Ele, seriam os felizes, porque no longo prazo, quando as coisas todas se fizerem definitivas, veriam uma inversão total do status e então seriam recompensados.

E há muitos seguidores do Mestre de boa fé se esforçando para se encaixar naquele ideal de ser pobre, manso, perseguido e a verdade é que isso não faz muito sentido. Ok, até faz quando se pensa em ser um pacificador e um manso, já que mais adiante Ele diz "aprendei de mim, que sou manso e humilde", mas se nós tivéssemos que nos esforçar para ser pobres de espírito, como faríamos isso? Se tivéssemos que nos esforçar para ter fome e sede de justiça, ou seja para sentirmos falta disso, ou seja, para sermos injustiçados, estaríamos exercitando algum tipo de virtude sadomasoquista? E o que dizer do esforço para ser perseguido? Se felizes são os perseguidos, então o ideal é fomentar a perseguição (chutando santas, vociferando que gays queimarão no inferno, etc)? E, se Jesus estivesse mesmo desenhando no monte um ideal de cristão a ser perseguido, não estaríamos trocando a salvação pela graça mediante a fé por um outro tipo de salvação pelas obras, por coisas que nós fazemos?

Concordo com Dallas Willard, Ed René Kivitz e outros estudiosos que chegaram à conclusão de que não se trata de nada disso. Em Mateus 5 Jesus não está ali enumerando qualidades a serem perseguidas pelos Seus discípulos, mas está continuando a pregação que começou em Mateus 4:17: "desde então Jesus começou a pregar e a dizer: arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus". E o reino dos céus está tão perto e é tão acessível que até mesmo os pobres têm acesso a ele. Até mesmo os perseguidos, os que abaixam a cabeça e engolem sapo, os que foram traumatizados e hoje choram, impotentes. O reino de Deus está perto e isso quer dizer que o caminho não é alto demais que só uns poucos conseguem palmilhar, ao contrário, ele está ao alcance até do mais humilde e fraco dos que de boa fé dizem: Senhor, eis-me aqui, sou teu. O reino de Deus, amigos, o lugar onde Deus reina, está aqui para qualquer um, à distância daquela prece simples. Eis-me aqui, sou Teu. O resto é com Ele, porque você já terá cruzado a fronteira do reino dEle. Você já estará respirando a atmosfera do país em que a vontade dEle é alcançada.

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