sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Jack Bauer e o bem maior


Durante as oito temporadas de 24 horas, série de TV americana estrelada por Kiefer Sutherland, vemos o agente Jack Bauer salvando a pátria ou a vida de milhões de pessoas em “tempo real”, ou seja, acompanhamos oito dias inteiros, de 24 horas, na vida desse personagem. Ele é um agente de uma unidade antiterrorismo e luta contra chineses, árabes, grupos paramilitares de ultradireita dos próprios Estados Unidos e outros inimigos, aparentes ou ocultos, enquanto precisa proteger a própria família. O reloginho digital que aparece de quando em quando mostra que o tempo está escoando e confere um ar de urgência e uma adrenalina difíceis de rivalizar na ficção contemporânea.

Mas há um outro aspecto da série que a torna um caso único: para conseguir seus fins, para alcançar seus nobres objetivos, Bauer não hesita em torturar. A tortura tem sido um tabu para a sociedade moderna. O mocinho pode matar à vontade, mas torturar não. A tortura é ultrapassar um limite vital. Mas no caso de Jack Bauer, para o grande público não há problemas nisso. Embora seja a primeira vez que o mocinho de uma série de TV lança mão de expedientes assim, está claro que ele está agindo por um bem maior. Sua ação está justificada. Além disso, vê-se que Bauer não é imune ao dilema ético envolvido na tortura; ele sofre, se angustia. O fato de ser um homem digno e de tentar ser um bom pai de família e esposo suavizam esse traço negro de sua personalidade.

A dúvida aqui é: um cristão estaria justificado por fazer o trabalho sujo por um bem maior? Há, enfim, fins que justificam alguns meios?

Penso que Deus tomou uma decisão análoga para nos liberar dela. Para que a raça humana sobrevivesse, Ele consentiu em entregar Seu Filho para ser torturado. Deus não tortura o outro, Ele Se deixa torturar para me fazer entender o quanto uma vida humana é sagrada e o quanto uma vida humana vale de fato. Ele faz isso com um respeito estrito à Lei. Ele critica as relativizações da Lei. “Pois quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente” (Tiago 2:10).

Existem momentos em que uma mentira esteja justificada? Mesmo que seja uma mentirinha? Será que em alguns momentos não estamos justificados por reter alguns impostos? Será mesmo que não existem situações em que precisamos de uma válvula de escape moral para conseguir manter nossa caminhada ascendente?

Não, é a resposta dEle. Ainda que você sofra. Ainda que alguém que você ama sofra. Melhor coisa é chorar e sofrer agora para estar longe do choro e do sofrimento eternamente.

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