Durante as oito temporadas de
24 horas, série de TV americana
estrelada por Kiefer Sutherland, vemos o agente Jack Bauer salvando a pátria ou
a vida de milhões de pessoas em “tempo real”, ou seja, acompanhamos oito dias
inteiros, de 24 horas, na vida desse personagem. Ele é um agente de uma unidade
antiterrorismo e luta contra chineses, árabes, grupos paramilitares de
ultradireita dos próprios Estados Unidos e outros inimigos, aparentes ou
ocultos, enquanto precisa proteger a própria família. O reloginho digital que
aparece de quando em quando mostra que o tempo está escoando e confere um ar de
urgência e uma adrenalina difíceis de rivalizar na ficção contemporânea.
Mas há um outro aspecto da
série que a torna um caso único: para conseguir seus fins, para alcançar seus
nobres objetivos, Bauer não hesita em torturar. A tortura tem sido um tabu para
a sociedade moderna. O mocinho pode matar à vontade, mas torturar não. A
tortura é ultrapassar um limite vital. Mas no caso de Jack Bauer, para o grande
público não há problemas nisso. Embora seja a primeira vez que o mocinho de uma
série de TV lança mão de expedientes assim, está claro que ele está agindo por
um bem maior. Sua ação está justificada. Além disso, vê-se que Bauer não é
imune ao dilema ético envolvido na tortura; ele sofre, se angustia. O fato de
ser um homem digno e de tentar ser um bom pai de família e esposo suavizam esse
traço negro de sua personalidade.
A dúvida aqui é: um cristão
estaria justificado por fazer o trabalho sujo por um bem maior? Há, enfim, fins
que justificam alguns meios?
Penso que Deus tomou uma
decisão análoga para nos liberar dela. Para que a raça humana sobrevivesse, Ele
consentiu em entregar Seu Filho para ser torturado. Deus não tortura o outro,
Ele Se deixa torturar para me fazer entender o quanto uma vida humana é sagrada
e o quanto uma vida humana vale de fato. Ele faz isso com um respeito estrito à
Lei. Ele critica as relativizações da Lei. “Pois
quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de
quebrá-la inteiramente” (Tiago 2:10).
Existem momentos em que uma
mentira esteja justificada? Mesmo que seja uma mentirinha? Será que em alguns
momentos não estamos justificados por reter alguns impostos? Será mesmo que não
existem situações em que precisamos de uma válvula de escape moral para
conseguir manter nossa caminhada ascendente?
Não, é a resposta dEle. Ainda
que você sofra. Ainda que alguém que você ama sofra. Melhor coisa é chorar e
sofrer agora para estar longe do choro e do sofrimento eternamente.
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