sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Elogio do aniversariante

Foi por volta do século IV que o que até então havia sido uma celebração do nascimento do deus sol, a Brumália, foi adaptada para celebrar o nascimento de Jesus. Sendo as raízes do natal pagãs ou não, é impressionante que essa celebração continue efervescente 17 séculos depois. As ruas, supermercados, feiras, açougues estavam hoje tomados por uma multidão desesperada para garantir os últimos preparativos. Não se pode negar, o natal é alguma coisa especial. É uma data como nenhuma outra.

Mesmo por entre o monte de entulho que foi sendo acrescentado à data, fica lá no fundinho ainda alguma lembrança associada ao nascimento de alguém numa periferia absolutamente desimportante do império romano há mais de dois mil anos. Somente alguém muito diferente seria capaz de ser celebrado de forma tão intensa por tanto tempo. Mas diferente como? Haverá os que apontam para seus ensinos de paz e de amor, ou para seu aparente ativismo político mas nada disso isolado seria capaz de explicar a particularidade fantástica de Jesus Cristo. A Bíblia, contudo, pode.

Ela diz que Jesus é nosso substituto na pena do pecado (“— Aí está o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” João 1:29). Mas não é só isso. Ela diz que Ele é a melhor terapia que existe (“— Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso.” Mateus 11:28). Mas é mais que isso. Ela diz que Ele garante que a morte física não será o fim da história (“Então Jesus afirmou: — Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” João 11:25). Mas é mais que isso. Ela diz que Jesus nos garante mais do que simplesmente a sobrevivência, Ele dá sentido à vida (“Eu vim para que as ovelhas tenham vida, a vida completa” João 10:10). Jesus é mais do que isso, contudo. Ele é o caminho, a verdade e a vida (João 14:6) e nos confere uma paz muito superior à que o mundo tenta nos vender (João 14:27). Jesus é tudo isso e muito mais e tem sido muito mais em minha vida. E, se Seu nascimento foi importante há dois mil anos atrás, não pode se comparar com o impacto que terá quando nascer no seu coração.

“Escutem! Eu estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa, e nós jantaremos juntos.” (Apocalipse 3:20).

Feliz natal, @migos!

Marco Aurelio Brasil, 23/12/11

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Alerta

Qual é o propósito de sua vida? Qual é sua grande missão, aquela que dá sentido a sua existência? Se você tem uma resposta para essas perguntas, acrescento ainda outra: o que falta para sua missão estar completada?

Na história de Naamã aparece uma menininha cativa. Separada dos pais, levada à força para uma nação estrangeira de hábitos e religião esquisitos. Diferentemente de outros cativos famosos, como José e Daniel, ela não chegou a galgar altos postos na hierarquia Síria. Nenhum biógrafo se demorou muito nela. Sua história é contada para as criancinhas como exemplo de como uma criança pode ser útil, mas não vai muito mais longe do que isso. Será que ela cumpriu sua missão? Será que sua vida teve um propósito?

Em outra ocasião aqui contei a história de uma amiga gaúcha que em um momento particularmente negro de sua vida, precisou fazer uma viagem solitária a Belo Horizonte; ela chegou à igreja central no dia em que havia toda uma programação voltada para homenagear um casal que havia falecido dias antes em um acidente aéreo. O sermão daquela manhã a tocou profundamente, arrancou lágrimas aos litros e lavou uma parte dolorida de sua alma. Além disso, ela foi notada, mesmo em uma igreja tão grande, por duas famílias diferentes em momentos diferentes; uma delas a levou para almoçar, outra para passear pela cidade e depois acordaram de madrugada para levá-la ao distante aeroporto de Confins.

Enquanto ficamos esperando algo grandioso acontecer, enquanto ficamos aguardando nos encontrar numa situação ideal para podermos brilhar, a vida vai acontecendo. Agora mesmo. Deus chama todos Seus filhos para trabalhar e lhes concede os mais variados dons e as mais variadas tarefas também. Há as grandes e há as pequenas também. Ele espera que estejamos prontos a responder sim a qualquer tipo de chamado, em qualquer situação. Para minha amiga deprimida, o sermão foi uma tábua de salvação, mas aquelas pessoas dispostas a identificar um rosto estranho na multidão e agir de forma solidária, inclusiva e terna foram as cordas que terminaram de tirá-la da escuridão em que se encontrava. Não é só o pr. Bullón que faz o serviço de Deus, a pessoa que está ao lado daquela alma em frangalhos e a abraça é tão parte do corpo de Deus quanto o pregador.

Mas é preciso estar atento aos chamados dEle para sermos Suas mãos, Seus pés, Seus olhos, Sua voz mesmo agora, pelos caminhos que caminhamos distraidamente, esperando algo acontecer em um futuro longínquo...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Feriado da alma

Em frente à minha janela há uma araucária linda e uma outra árvore cujas folhas pinguelam suavemente os resquícios da chuva que parou há pouco. Da base do tronco dessas árvores até o alto de suas copas, se eu ajustar bem o foco, posso ver centenas de digitais do Criador. Atrás de mim meus filhos brincam de esconde esconde e em suas risadas posso identificar o DNA do Criador. Deus está aqui, Sua presença preenche cada centímetro cúbico da atmosfera que me rodeia. É claro. É evidente. Mas, se é assim, por que Ele diz “buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo coração” (Jeremias 29:13) ? Por que Deus precisa ser buscado e por que a condição para encontrá-lo é tão custosa?

Na parábola de Jesus, o homem que encontrou o tesouro escondido no campo vendeu tudo o que tinha para comprar o campo e ficar com o tesouro. O homem que procurava pérolas preciosas precisou vender todo seu patrimônio para ter nas mãos a pérola de grande preço que encontrou. Um achou sem querer o tesouro, o outro estava procurando intensamente, mas ambos, ao identificarem o valor daquilo que encontraram, precisaram aplicar-se inteiramente para ter.

Você não faz concessões a Deus. Você se entrega inteiramente. “Cristo diz: ‘Quero tudo o que é seu’”, afirma C. S. Lewis. “Não quero uma parte do seu tempo, uma parte do seu dinheiro e uma parte do seu trabalho: quero você. Não vim para atormentar o seu ser natural, vim para matá-lo. As meias medidas não me bastam. Não quero cortar um ramo aqui e outro ali; quero abater a árvore inteira. Não quero raspar, revestir ou obturar o dente; quero arrancá-lo. Entregue-me todo o ser natural, não só os desejos que lhe parecem maus, mas também os que se afiguram inocentes – o aparato inteiro. Em lugar dele, dar-lhe-ei um ser novo. Na verdade, dar-lhe-ei a mim mesmo; o que é meu se tornará seu”.

A igreja católica instituiu no século XI a quaresma, um período de abstenção de carne e privação. Foi permissiva, contudo, com a instituição do carnaval (ou “adeus à carne”) antecedendo esse período. A festa rapidamente se tornou a válvula de escape moral. Você pode tirar um feriado para descansar o corpo, então também pode tirar um feriado para descansar a moral – era a ideia.


Ninguém é de ferro, ninguém é perfeito, eu também sou filho de Deus, é só uma fase, Deus vai entender. Não importa o nome que você dá a isso, não se tira feriados morais. A moral não admite concessões. É preciso aplicar o coração inteiro para ver a Deus. Ele quer pessoas, não retalhos de pessoas, porque pessoas inteiras, ainda que feridas, ainda que fracassadas, ainda que mutiladas pelo pecado, podem ser refeitas a Sua imagem e semelhança.


Deus precisa ser buscado porque os olhos de pessoas que não se entregam integralmente perderam a capacidade de enxergá-lO. Pense nas coisas, nas partes de você próprio que você precisa abdicar para estar apto a vê-lO de novo e entregue a Ele. “Busquem o Senhor enquanto é possível achá-lo” (Isaías 55:6).