sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Feriado da alma

Em frente à minha janela há uma araucária linda e uma outra árvore cujas folhas pinguelam suavemente os resquícios da chuva que parou há pouco. Da base do tronco dessas árvores até o alto de suas copas, se eu ajustar bem o foco, posso ver centenas de digitais do Criador. Atrás de mim meus filhos brincam de esconde esconde e em suas risadas posso identificar o DNA do Criador. Deus está aqui, Sua presença preenche cada centímetro cúbico da atmosfera que me rodeia. É claro. É evidente. Mas, se é assim, por que Ele diz “buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo coração” (Jeremias 29:13) ? Por que Deus precisa ser buscado e por que a condição para encontrá-lo é tão custosa?

Na parábola de Jesus, o homem que encontrou o tesouro escondido no campo vendeu tudo o que tinha para comprar o campo e ficar com o tesouro. O homem que procurava pérolas preciosas precisou vender todo seu patrimônio para ter nas mãos a pérola de grande preço que encontrou. Um achou sem querer o tesouro, o outro estava procurando intensamente, mas ambos, ao identificarem o valor daquilo que encontraram, precisaram aplicar-se inteiramente para ter.

Você não faz concessões a Deus. Você se entrega inteiramente. “Cristo diz: ‘Quero tudo o que é seu’”, afirma C. S. Lewis. “Não quero uma parte do seu tempo, uma parte do seu dinheiro e uma parte do seu trabalho: quero você. Não vim para atormentar o seu ser natural, vim para matá-lo. As meias medidas não me bastam. Não quero cortar um ramo aqui e outro ali; quero abater a árvore inteira. Não quero raspar, revestir ou obturar o dente; quero arrancá-lo. Entregue-me todo o ser natural, não só os desejos que lhe parecem maus, mas também os que se afiguram inocentes – o aparato inteiro. Em lugar dele, dar-lhe-ei um ser novo. Na verdade, dar-lhe-ei a mim mesmo; o que é meu se tornará seu”.

A igreja católica instituiu no século XI a quaresma, um período de abstenção de carne e privação. Foi permissiva, contudo, com a instituição do carnaval (ou “adeus à carne”) antecedendo esse período. A festa rapidamente se tornou a válvula de escape moral. Você pode tirar um feriado para descansar o corpo, então também pode tirar um feriado para descansar a moral – era a ideia.


Ninguém é de ferro, ninguém é perfeito, eu também sou filho de Deus, é só uma fase, Deus vai entender. Não importa o nome que você dá a isso, não se tira feriados morais. A moral não admite concessões. É preciso aplicar o coração inteiro para ver a Deus. Ele quer pessoas, não retalhos de pessoas, porque pessoas inteiras, ainda que feridas, ainda que fracassadas, ainda que mutiladas pelo pecado, podem ser refeitas a Sua imagem e semelhança.


Deus precisa ser buscado porque os olhos de pessoas que não se entregam integralmente perderam a capacidade de enxergá-lO. Pense nas coisas, nas partes de você próprio que você precisa abdicar para estar apto a vê-lO de novo e entregue a Ele. “Busquem o Senhor enquanto é possível achá-lo” (Isaías 55:6).

Um comentário:

Pilo disse...

Saudades Marcão, como sempre inspirador....