sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Uma tolice

Saul fora coroado rei havia pouco tempo e já tinha um exécito gigantesco de filisteus para encarar. Ele convocou o povo todo, mas nem todo mundo atendeu. Os que atenderam eram menos de 10% do número de filisteus e terrivelmente menos preparados que os filisteus. Suas armas eram relhas e foices, ao passo que os filisteus tinham carros, cavalos, espadas e escudos. Para piorar, Samuel havia prometido aparecer e nada. Estava atrasdo e seu exército que já era minguado diminuia a cada dia.

Naquela situação aflitiva, Saul tomou uma péssima decisão: mandou trazerem animais e fez, ele mesmo, um sacrifício. Ele não era sacerdote, não tinha esse direito. Então Samuel aparece e pergunta por que ele fez aquela loucura e Saul respondeu contando a situação em que se encontrava e que ficou angustiado porque ainda não tinha apaziguado a Deus, ou buscado o favor de Deus.

- O que você fez foi uma tolice - vaticinou Samuel energicamente. Uma tolice.

Saul havia sido escolhido para ser rei. Ele deveria saber o que é graça. Ele não tinha nada que o tornasse mais apto ao cargo. Era filho de uma casa insignificante da menor das tribos de Israel. Mesmo assim ele foi escolhido desse jeito, sem haver feito nada de muito notório para merecer a distinção. Pessoas atingidas pela graça jamais deveriam imaginar que precisam fazer algo para apaziguar a Deus ou para atrair Seu favor. Ele já foi dado. Já foi provado, com o sangue de Jesus. Querer convencer Deus a favorecê-lo é uma tolice, uma tolice trágica porque Saul ali perdeu seu status.

Você foi atingido pela graça. Pode não ser nenhum rei, mas Deus o escolheu quando você não merecia ser escolhido, mas esquecido. Então, como diz Yancey, não há nada que você possa fazer para Deus amá-lo mais. Não há nada que você possa fazer para Deus amá-lo menos.

Se as coisas vão mal (para mim, por exemplo, algumas coisas vão muito mal agora, estou pregando para mim mesmo, primeiro), não é hora de comprar o favor de Deus. É hora de confiar no Deus que já ama.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Juízes

No carro da frente, alguém joga uma lata de refrigerante pela janela. Do seu lado, uma menina usa minissaia rosa e uma bota de veludo marrom apesar do calor que faz. Do outro lado, tem um sujeito com tatuagem no rosto e uma quantia infindável de piercings e um sujeito casado nitidamente tentando cantar a moça de visual gótico. Há gente de todos os tipos, cores, formas e tamanhos ao nosso redor e, assim mesmo, Jesus diz: “não julgueis para que não sejais julgados” (Mateus 7:1).

O ato de julgar pressupõe três fases básicas: a fase de conhecimento , a fase de decisão e a fase da execução da sentença. Na primeira você reúne os elementos que influenciarão na decisão; a segunda é quando você decide se aqueles elementos todos resultam em um saldo positivo ou negativo; e a terceira é quando você em coerência com a decisão. Reunir os elementos e decidir se eles são bons ou maus é inevitável. Você não pode fugir das duas primeiras fases. É inevitável ter uma opinião sobre lixo pela janela, piercings, cafonice, canalhice, devoção religiosa, humildade, orgulho, preguiça, homossexualismo, simpatia, hipocrisia e tudo o mais que compõe a complexa fauna humana. Algumas coisas você achará boas, outras você achará ruins, e entre o extremo bom e o extremo ruim há muitos tons de cinza.

É na fase da execução que temos alguma liberdade de atuação. Podemos dar o veredito e condenar aquilo que achamos ruim ou seguir o conselho de Jesus e abster-se de julgar. Não julgar, portanto, é diferente de não ter uma opinião. A opinião está lá, mas você escolhe não executar a sentença. Em lugar disso, Jesus convida você a interceder.

Hebreus 7:25 afirma que Jesus “por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles”. Ele é o nosso exemplo, nosso modelo; somos convidados a fazer a mesma coisa: em lugar de acusar, alienar, desprezar ou evitar aquilo que é moralmente mau, intercedemos por eles. Oramos por eles.

Muita energia se perde no meio cristão em acusar o pecado ou o afrouxamento das normas morais. Há muito dedo na cara e bons cristão dizem que isso é “chamar o pecado pelo nome”. “Haja em vós”, conclama o apóstolo Paulo, “o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Filipenses 2:5). Melhor, muito melhor do que ser um revelador do pecado é ser aquele que ora para que o pecado cesse.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Super poderes

Mãe, começou o filho de 5 anos de uma amiga, o Jesus tem muito poder, não é? É, filho. Ele pode fritar uma pessoa com raios se quiser, não é, mãe? Ele pode dar um soco muito forte em alguém e voar, não pode? Enquanto a mãe pensava na resposta mais tecnicamente correta, ele chegou onde pretendia desde o começo: você acha que se eu pedir bastante Ele não pode me dar uns poderes, mãe?

A Bíblia diz que Deus distribui entre todos que O seguem alguns dons. Nas listas de dons que encontramos na Bíblia não achamos voar, fritar pessoas, super força, ficar invisível ou em chamas, para tristeza de meninos que curtem super heróis. Em lugar disso há coisas bem mais sutis como ensinar, orar e profetizar. Paulo diz que devemos procurar com afinco os melhores dons, mas há um risco grande aqui. Podemos estar buscando os dons com motivos muito parecidos com os do menino que quer superpoderes.

João é um bom exemplo a ser seguido, nesse contexto. Foram-lhe dado grandes dons. Ele pregava com poder, tinha um discernimento prodigioso do certo e do errado, conseguia julgar as pessoas com uma sabedoria sobrehumana. Multidões afluíam até ele para ouvi-lo falar e para serem batizadas por ele. Até que veio Jesus e aí a assistência de João começou a minguar. Seus seguidores disseram: ei, aquele que você batizou está fazendo concorrência para você! Ele respondeu: Convém que ele cresça e que eu diminua (João 3:30).

João sabia que seus dons tinham um propósito e esse propósito era apontar e engrandecer a Cristo. Muitos cristãos não sabem disso. Eles buscam “os melhores dons” porque são aqueles que os colocam em maior evidência. A popularidade e a fama que advém do exercício de dons espirituais podem ser tão sedutoras quanto as que vêm do exercício dos talentos mais mundanos.

Se não temos em mente o propósito dos dons, estamos em perigo de persegui-los por motivos mesquinhos e egoístas. Seu exercício será uma catástrofe, então. Oswald Chambers observou que “se você se torna uma necessidade para uma alma, você está fora da ordem de Deus... Bondade e pureza nunca deveriam atrair atenção para si próprios, mas deveriam simplesmente atuar como imãs que conduzem a Jesus Cristo”. Na mosca. O afã de ser especial, de ser imprescindível para alguém pode obnubilar nosso objetivo real. Nossos dons deveriam conduzir as pessoas a desenvolver uma relação pessoal com Jesus, passando a dependerem dEle e só dEle para tudo.

Ou, como João ilustrou: “O que tem a noiva é o noivo; o amigo do noivo que está presente e o ouve muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim” (João 3:29). Que a noiva e o noive se beijem. Nosso papel é apresentá-los.