sexta-feira, 8 de julho de 2011

As duas últimas disciplinas: guia e celebração

As duas últimas disciplinas sobre que Foster escreve são as disciplinas da condução divina (guia) e a da celebração.

Estamos acostumados a procurar a condução divina num âmbito individual, mas Foster se refere a um outro tipo de guia, aquela que conduz coletivamente um corpo de crentes. Assim como o povo de Israel era guiado pela coluna de fogo à noite e pela nuvem de dia, assim como a igreja primitiva era guiada pelo Espírito Santo, podemos ter a experiência de ser conduzidos corporativamente.

Não se trata do tipo de condução denominacional a que estamos acostumados, em que alguns delegados e pastores votam esta ou aquela proposta, mas o tipo de experiência retratada em passagens como Mateus 18:19 e 20 e Atos 13:1-3. Algumas igrejas têm o costume de, após uma reunião de oração, meditação e louvor, talvez após algum tempo de jejum, abrir espaço para que qualquer membro que queira partilhe com os outros sua visão a respeito de um novo ministério ou alguma iniciativa que na qual ele próprio gostaria de se envolver. Qualquer outro membro então pode se aproximar e “testar o chamado”, inquirindo e orando até ver se não se trata de um entusiasmo passageiro.

A verdade é que passamos tempo demais na igreja e meditamos muito pouco em qual é a missão dela, para que ela serve, qual a sua finalidade. Se praticássemos a Disciplina da busca da condução divina em um âmbito coletivo, não correríamos o risco de tirar a igreja dos trilhos, de errar o alvo para o qual Deus a suscitou.

Por fim, temos a Disciplina da celebração. Em minha igreja, a Santa Ceia é um evento solene. Há todo um processional, a igreja permanece em silêncio, a música costuma ser grave e meditativa. Um dia um pastor visitante tentou dar-lhe um ar mais alegre, argumentando que aquele era um momento de festa, mas ele não teve muito sucesso. A seus rompantes eufóricos a igreja respondia com testa franzida.

Eu amo as Santas Ceias de minha igreja, são sempre um momento de reflexão e de reatamento dos laços que inauguramos um dia e confirmamos no batismo, mas sinto falta da celebração. Sinto falta de momentos em que podemos ser alegres pela redenção que já aconteceu e vai se consumar em breve.

Em II Crônicas 20 vemos como a festa começou antes do livramento acontecer, começou quando ele foi anunciado. Da mesma forma há um momento em que temos que jogar fora toda ansiedade, toda preocupação, e celebrar porque já somos alvos das maiores bênçãos. Como diz Augustine de Hippo, “o cristão deveria ser uma aleluia dos pés à cabeça”.

A celebração é a última Disciplina porque é a ela que as outras todas conduzem. Alegria é um fruto do Espírito. As outras disciplinas todas servem para nos levar à mais importante de todas as experiências, aquela que pode ser apontada como o sentido da vida: a experiência de aprender a confiar em Deus. E quem confia em Deus é alegre, é leve, celebra.

Minha igreja nasceu no auge do racionalismo do século XIX e por isso, toda forma de expressão de alegria, que é emocional e não racional, é visto com desconfiança. Cantar tirando os pés do lugar já deixa muita gente se coçando. Para piorar, nos últimos tempos têm surgido igrejas que enfatizam demais as emoções e o êxtase e que têm uma teologia distorcida, então toda manifestação de alegria cheira a isso. Bem, temos muito a aprender. Se meus filhos ao receberem presentes respondessem com o tipo de alegria que estamos acostumados a mostrar em nosso culto, eu ficaria extremamente frustrado.

Ao ser confrontado com a magnitude da salvação, louve, cante, celebre. Aja em harmonia com o que você sente, porque Deus se agrada de quem é honesto com o que sente!

Feliz sábado, @migos!
Marco Aurelio Brasil, 08/07/11

4 comentários:

Anônimo disse...

Marcão (posso chamá-lo assim?),
muito bom.

Achei muito boa a comparação entre a nossa reação diante de algumas imensas dádivas divinas e a de nossos filhos ao receberem nossos presentinhos.

Abraços

PS- Gostaria de saber se ainda é possível acessar as gavetas da "escrivaninha do Marco"?

Paulo

Marco Aurelio Brasil disse...

Fala, "Paulão"! Obrigado pelo comentário. Eu estava justamente tentando descobrir se a Escrivaninha ainda existe, mas parece que o Geocities já a mandou para o espaço! É uma pena, porque tinha coisas que eu, idiotamente, guardei só lá...

Pena. Você conhecia a escrivaninha de onde?

Anônimo disse...

meu amigo, a escrivaninha tá aqui:
http://www.geocities.ws/escrivaninhadomarco/index-2.html

Saudade GRANDE de você.

Lux

Marco Aurelio Brasil disse...

Grande Lux! Thanks! Saudade ENORME de você!