sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Visões de futuro

Quando pensamos na palavra profecia geralmente vêm à nossa mente visões estranhas sobre o fim do mundo ou sobre um futuro distante. Na Bíblia, contudo, profecia é qualquer mensagem vinda da parte de Deus. As Escrituras estão coalhadas de relatos de previsões do futuro mas em geral se trata de assuntos imediatos, coisas que aconteceriam naquela mesma geração ou num futuro próximo, como a pregação de Jonas para Nínive, que antecipava algo que aconteceria dali a quarenta dias apenas.

É curioso notar que nos anos de ouro de Israel não tenha existido nenhum profeta muito proeminente. Lemos sobre Natã, mas só o vemos atuar em um assunto imediato, fazendo o rei Davi se dar conta do tamanho do pecado que havia cometido com Bate Seba e Urias. Vemos o ainda jovem e recém ungido rei Saul profetizando, mas aparentemente não havia nenhuma visão de futuro distante ali e o mesmo acontece na atuação de Samuel.

É quando a coisa começou a degringolar que os profetas aparecem com maior presença. A maioria dos que deixaram registros que hoje integram a Bíblia apontavam para um tempo em que o povo de Israel seria dominado por um povo estrangeiro e viveria no exílio. Esta, diziam eles, seria a consequência da desobediência e da adoração dividida (uma vela para Deus e outra para os ídolos cananitas).

Bem, esse dia chegou. Primeiro para Israel, pela mão dos assírios, e depois para Judá, pela mão dos babilônios. É durante os dias desse primeiro evento terrível que aparece um tipo ainda desconhecido de profeta: Isaías começa a prever coisas num futuro muito mais distante. Isaías é quem praticamente inaugura a figura dos profetas conforme a ideia que as pessoas hoje têm. Ele fala da vinda do Messias e aponta para um ponto muito além no futuro, onde Deus criaria “novos céus e nova terra” (66:17).

Mas é durante o exílio dos judeus em Babilônia que aparece o maior de todos os profetas apocalípticos (forma como os teólogos designam esse tipo raro de profeta): Daniel. Todas as profecias dos demais profetas haviam se cumprido, já. O povo escolhido por Deus estava humilhado, reduzido a um remanescente insignificante, com a autoestima quebrada, tão destruída quanto o templo e os muros da sua adorada Jerusalém, sendo obrigados a servir um povo pagão. É só nesse contexto que Deus abre a cortina do que aconteceria ao mundo até o seu final. Ele mostra a Daniel que Babilônia seria sucedida pelos persas na hegemonia da mesopotâmia, e que os persas seriam suplantados pelos gregos; descreve com detalhes o reinado dos romanos, mostra a transmutação desse reino para a igreja católica, dá um vislumbre na situação geral do mundo depois disso e enfim mostra Jesus Cristo voltando à Terra em glória e majestade para colocar fim ao império do pecado e inaugurar um Reino que jamais passará (leia Daniel 2 para mais detalhes).

Não é curioso que é só quando o povo de Deus atinge o fundo do poço que Ele lhes revela a razão e a fonte de sua maior esperança? Será que isso não é por acaso? Será que, quando as coisas vão bem, uma visão de glória resplendente não parece tão resplendente assim? Será que menosprezamos o ideal de felicidade divino quando temos uma imitação barata dele vendida aqui mesmo? Será que nossa capacidade de olhar mais além e mais longe se enfraquece quando estamos confortáveis e descansados?

Responda você.

Nenhum comentário: