sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Milagre

Talvez com você aconteça a mesma coisa que acontece comigo quando eu tenho algum pesadelo de que estou sendo assaltado ou correndo algum perigo iminente: eu tento correr, fugir, mas embora minhas pernas se movam freneticamente eu não consigo sair do lugar. Talvez esse fenômeno seja mesmo significativo, porque o medo nos paralisa. O medo também nos faz rever conceitos e valores, nos alia instantaneamente a pessoas de quem desconfiávamos, nos convence a fazer concessões. E provavelmente por ele ter esses efeitos todos, é utilizado frequentemente como arma.

Quando a popularidade do presidente George W. Bush estava despencando, os atentados do 11/09/01 lhe deram a oportunidade de usar o medo do terrorismo como alavanca que não só garantiu aprovação ao seu governo como lhe deu mais um mandato e dessa vez sem qualquer suspeita de fraude eleitoral. No filme A vila, de M. Night Shyamalan, possivelmente uma crítica política a Bush, os habitantes da tal vila são praticamente confinados a seus limites pelo medo de criaturas que, acredita-se, vivem nos bosques em volta.

Em sã consciência, os norteamericanos deveriam execrar o presidente Bush por sua clara opção pelos mais ricos, por suas guerras irresponsáveis e por tantas outras coisas e os jovens da vila deveriam ansiar por ver alguma coisa além daquele punhado de casas em que vivem, mas o medo, como já disse, consegue de nós o que nada mais conseguiria.

De repente você olha em volta e percebe que todos olham para você, porque de repente você virou o líder. De repente você é jogado num turbilhão de problemas e não vê saída. De repente o resultado daquele exame médico seu ou de alguém de sua família dá positivo. De repente você está desempregado. De repente o desafio é gigantesco. De repente alguém depende de você. Estamos sujeitos a muitos repentes e não só de ordem física, porque o perigo é muitas vezes de outra natureza. O medo vai lhe paralisar. Vai lhe fazer abrir a guarda, fazer concessões, vai mudar seu caráter.

Nem o poder e nem a universalidade do medo deveriam ser subestimados, porque a frase que a Bíblia repete mais vezes não é outra senão "não tenha medo". Deus a afirma e reafirma à exaustão, mas em todas essas situações Ele não suprime a origem do medo imediatamente; a escuridão continua escura, o inimigo continua às portas, a pessoa continua doente. Ao menos por um pouco mais de tempo. É que esse é um momento especial, uma oportunidade de você reconhecer sua pequenez, sua dependência dEle e simplesmente confiar. Ainda em perigo, você se reconhece incapaz e impotente mas se obriga a admitir a possibilidade de acreditar que você pode não ter medo.

E aí o milagre acontece.

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