terça-feira, 13 de janeiro de 2009

(i)Lógica

Jesus disse que João Batista era o maior dos seres humanos, ou seja, ninguém é mais digno de respeito e honra que ele, correto? Fala-se pouco dele na Bíblia, mas por essa fresta eu consigo antever não alguém que tem uma idéia distorcida de seu próprio valor e do valor dos outros, pelo contrário: alguém absolutamente consciente de sua missão e de seu papel na efetivação da vontade de Deus na Terra. É por isso que fica evidente o abismo existente entre a humanidade e Deus, pois ele, o maior dos seres humanos, diz não ser digno sequer de se abaixar e desatar as sandálias de Jesus. Se o maior dentre nós não presta nem para o serviço mais humilde a Ele, quem pode? Jesus precisa convencer João a batizá-lO, porque ele realmente tinha a noção de maior e menor e ela lhe era amplamente desfavorável.

Se ninguém na Terra era digno de desatar as sandálias de Jesus, por que O vemos curvado e lavando os pés de homens? Não de homens dentre os maiores, mas de um grupo ordinário, que há poucos discutia quem seria o maior no reino que Jesus jamais fundaria – pelo menos não do jeito que esperavam. Ele se abaixa, toma um toalha e lava os pés daquele que já havia combinado de traí-lO e daquele que dali a algumas horas estaria praguejando e vociferando para convencer os outros que não O conhecia. Pois é, isto é graça.

Não que Deus despreze as noções de dignidade e hierarquia, pelo contrário. Sendo a expressão máxima de justiça, Ele tem grande zelo em dar a cada um o que é seu e ninguém é mais digno de veneração, obediência, louvor, temor, respeito e glória que Ele.

Mas como nós, ao escolher o caminho descendente, perdemos a capacidade de reconhecer que Ele é digno de tudo isso, Ele adota a medida extrema de Se fazer menor do que os menores, para, pelo absurdo dessa declaração de amor, abrir seus olhos. Tudo isso sem parecer antinatural, pois servir é o traço marcante da personalidade do próprio Todo Poderoso.

O amor inaugura a graça e a graça subverte tudo. A graça torna o indigno objeto do maior sacrifício. A graça faz o mais rico consentir em Se fazer o mais pobre para que o mais pobre possa ser rico. A graça contamina até mesmo a mais exata das ciências, pois na matemática divina um é mais importante que noventa e nove (como na parábola da ovelha perdida).

A graça desafia meus conceitos de certo e errado. Acostumado a torcer para que o mau morra no fim do filme da forma mais violenta e torturante possível, não consigo entender que, confrontado com o espelho e notando que o mau sou eu, tenha, em lugar da morte violenta e dolorosa, vida eterna e abundante, porque morte violenta e dolorosa teve quem não era mau. Continuo estupefato e algo me diz que assim será pela eternidade afora.

4 comentários:

Anônimo disse...

Marcão,

Pra eu continuar tendo a honra de fazer parte de sua lista de blogs, preciso que alteres meu endereço para:

ascoisasladoalto.blogspot.com


Obrigado!

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Quanto mais leio, ouço, penso e, principalmente, sinto a graça, mais estupefato me sinto diante de tal (i)lógica do amor de Deus. É, de fato, a graça é maravilhosa, espantosa... não há quem possa descrever de forma plena. Deus seja louvado!