sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O mesmo espírito

Ela não podia crer no que estava acontecendo. Os cabelos soltos, descalça, vestida às pressas, sendo conduzida aos empurrões por entre uma multidão. Pela mente dela um turbilhão de pensamentos desencontrados oscilando entre a máxima vergonha e a angústia de estar prestes a se despedir da vida. Quando finalmente param de empurrá-la e de gritar aqueles impropérios todos, ela se joga ao chão tentando esconder o rosto com os cabelos, mas eles a agarram com violência pelo braço e a fazem ficar de pé, de um jeito que todos possam vê-la. Nesse momento ela ouve aquilo que já estava esperando - e temendo. O mesmo que a tomou pelo braço diz:

- Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério. Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. E o senhor, o que diz? (Jo. 8:4 e 5)

A Lei à qual ele fazia menção é Levítico 20:10: "se um homem cometer adultério com a mulher de outro homem, com a mulher do seu próximo, tanto o adúltero quanto a adúltera terão que ser executados". No entanto, só se via a adúltera por ali. Muito embora houvesse isso que hoje chamaríamos de uma "brecha jurídica", a atitude do jovem mestre em quem fora depositado o destino daquela mulher foi surpreendente.
Escrever na areia, aparentando alheamento. Foi necessário que repetissem a pergunta para ele vaticinar seu famoso "quem estiver sem pecado que atire a primeira pedra".

A ideia era muito boa: Jesus estava sempre relativizando o rigor da Lei de Moisés como eles a entendiam, curando aos sábados e se misturando com gente que estava à margem da sociedade, então eles o forçariam a rebelar-se claramente contra a Lei e teriam aí o mote que precisavam para destruí-lo.

O engraçado é que Jesus não defendia uma desnecessidade de obedecer a Lei; ao contrário, Sua ideia de obediência era milhares de vezes mais rigorosa do que a deles, porque Ele dizia que o mero ódio já é homicídio, o mero desejo acalentado já é adulterio.

Aquela mulher merecia morrer. Ela era realmente uma pecadora. Jesus só pediu que a pena fosse executada por alguém em situação moral superior à dela, porque toda vez que julgamos alguém é isso que estamos fazendo, nos colocando numa posição de superioridade. E ali só havia uma única pessoa nessa situação, a pessoa que ao fim disse: "eu também não te condeno".

Não é fácil imitar Jesus. Ser intransigente com o espírito da Lei, não realizar uma única concessão ao pecado e, no entanto, abster-se de condenar quem assim não procede.

"Haja em nós aquele mesmo espírito que houve em Cristo Jesus".

Um comentário:

Anônimo disse...

Rapeiz, ontem eu tava vendo aquele musical, "O desejado de todas as nações", e vendo a Alessandra interpretar a pecadora... cara, não pude deixar de pensar que quase ninguém lembrou dessa interpretação meses depois, quando ela cantou na Hebe, heheheh. Mas ela bem que deve ter escutado o "essa mulher deve morrer" ressoando nos ouvidos...