sexta-feira, 29 de abril de 2016

Onde estamos?

Hoje quero me apropriar das palavras de outra pessoa. Mais precisamente, das palavras de Ty Gibson, pastor em Eugene, Oregon (EUA), e codiretor da Light Bearers. A Adventist Review perguntou: "Onde você, pessoalmente, acredita que a Igreja Adventista está no fluxo da profecia bíblica?" Esta é a resposta:
"Profeticamente, a Igreja Adventista está na convergência entre a identidade do “remanescente” [Apocalipse 12:17], com todo o seu potencial latente, e a identidade de “Laodiceia” [Apocalipse 3:14-22], com toda a sua cegueira da autoilusão.
O adventismo é um gigantesco potencial não realizado! 

O problema é que, como povo, vivemos debaixo da ilusão persistente e autoinfligida de que “estamos terminando a obra”. Imaginamos que se apenas falarmos alto o bastante e com o alcance necessário, se tivermos o programa ou o mecanismo correto, se tivermos as maiores redes de televisão, então nossa missão será concluída. Assim, com nossos olhos de Laodiceia, supomos que temos simplesmente um problema de logística, e nunca nos ocorre que podemos ter um problema fundamental de conteúdo.
Há apenas uma coisa que pode ser feita para levar adiante a missão do adventismo. Precisamos refazer nossos passos históricos e voltar ao lugar onde vimos a luz pela última vez. E vimos a luz pela última vez quando a profetisa a este movimento morreu apelando para que o evangelho da justificação pela fé fosse plenamente incorporado à nossa construção doutrinária, nossos métodos missionais e nossos sistemas eclesiásticos.
[seguem vários exemplos de citações de EGW que endossam essa ideia]
Nossa situação atual é dupla: (1) As vozes estridentes à direita [isto é, ‘ultraconservadores’] têm redefinido “justiça / justificação pela fé” como “vitória sobre o pecado” e “obediência à lei”, colocando a ênfase e a responsabilidade sobre o agente humano. Essa é simplesmente uma versão atualizada da orientação egocêntrica e legalista que Deus tem buscado corrigir no adventismo desde 1888. (2) As vozes estridentes à esquerda [isto é, ‘liberais’] têm reagido ao legalismo à direita meramente desprezando ou negando doutrinas adventistas fundamentais ao adotarem um sentimentalismo vazio que erroneamente chamam de “graça”. E assim balança o grande pêndulo adventista!
O que precisamos urgentemente é de uma visão do evangelho que seja ricamente compreendida à luz da doutrina e da escatologia adventista [e uma doutrina e escatologia adventista compreendidas à luz do “evangelho eterno”, Apocalipse 14:6]. Quando isso acontecer, o impulso teológico que costumamos chamar de “alto clamor” tomará forma, e através dele toda a Terra será “iluminada” com a “glória” do caráter de Deus, derrubando assim (ou provocando a “queda”) das imagens distorcidas sobre Deus promovidas por “Babilônia” (Apocalipse 18:1-4)."
Amém.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Nova ordem

É isso aí o que nós temos. Lá, representantes de péssimo calibre, que aproveitam seus 10 segundos de cadeia nacional para assassinar o português e reforçar o estereótipo de que trabalham não pelo bem comum, mas por suas famílias, seu curral eleitoral e, no máximo, pelo seu estado, incapazes de mencionar o fato que teoricamente dava ensejo àquela votação, vociferando protestos anticorrupção como se fossem impolutos. Vergonha. Aqui, indignados de Facebook flamulando suas bandeiras míopes em discursos transbordantes de ódio e ignorância. Ali, violência, preconceito, desamor. É isso o que temos. Essa é nossa ordem de coisas.

"Veja, estou fazendo novas todas as coisas!" (Apocalipse 21:5 Viva).

A antiga ordem se encerra, e uma nova é estabelecida. Uma ordem em que o mar já não existe, é uma única nação pulsando em uníssono, sem ninguém que "pratique coisas vergonhosas ou mentirosas" (27), sem "covardes, incrédulos, depravados, assassinos, imorais, bruxos, ocultistas, ídolos e mentirosos" (8). Harmonia enfim. Nivelada por cima, e não por baixo. 

E Deus mesmo agora entre nós, acessível, próximo, palpável. "Eles contemplarão a sua face" (22:4). Porque a nova ordem, mais do que aquilo que não tem (representantes do povo de baixíssima qualidade movidos a fisiologia, mentirosos, imorais, etc), é marcada por aquilo que ela tem e que não havia na ordem anterior. Deus entre nós. Nós perto dEle. Sem ânsia por se esconder, sem vergonha por uma nudez inventada, sem a sensação de que seremos fulminados. E enfim sem a sensação de que algo nos falta.

Nada nos falta na nova ordem, é isso o que temos ali.

Você pode me chamar de escapista. Mas eu tenho esse consolo.


sexta-feira, 15 de abril de 2016

Os verdadeiros adoradores

Para ilustrar o que estava tentando dizer, perguntei ao auditório naquela manhã de sábado quantos ali haviam assistido ao primeiro culto. Várias mãos se levantaram, a grande maioria, aliás. 

- Então nós temos um problema sério - concluí. Afinal, culto não se assiste, culto se presta.

Os samaritanos defendiam o monte Gerizim, dentro de seu território, como sendo o único local correto de adoração, graças a esses malabarismos retóricos e argumentativos típicos dos teólogos. Quando aquela mulher samaritana percebeu que Jesus era mais do que um simples homem, aproveitou para lançar essa controvérsia e ver o que o profeta judeu dizia: "Senhor, vejo que és profeta. Nossos antepassados adoraram neste monte, mas vocês, judeus, dizem que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar" (João 4:19 e 20). 

A resposta de Jesus lançou uma profunda e radical alteração no entendimento do que é adoração. Ele disse que até aquele momento o local correto era mesmo Jerusalém, não importando as firulas teológicas em sentido contrário, mas que logo essa controvérsia seria tão útil quanto definir quem foi o melhor jogador, se Pelé ou Maradona. É que o elemento geográfico estava pronto a desaparecer. "Está chegando a hora", disse Ele, "e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade" (23). Quando Ele expulsa os vendilhões do templo, mais do que defendendo aquele edifício, Jesus estava expulsando os que adoravam com segundas intenções e tornavam a adoração dos "verdadeiros adoradores" praticamente impossível.

Durante séculos a igreja cristã não teve um templo e isso não foi problema nenhum, porque o conceito de templo estava superado. "Nem lá nem cá", foi a resposta de Jesus à samaritana, mas em todo lugar, constantemente. A dinâmica mudou. Você não vai mais atrair pessoas a um prédio santo para que lá elas conheçam a Deus. Agora, os que conhecem a Deus vão ("ide"!) e por onde vão fazem discípulos. 

Agora a igreja está andando. No exato instante em que escrevo isto, ela está espalhada pelos ônibus, subindo elevadores, escovando os dentes, comprando pão, ouvindo notícias no rádio do carro. No GPS divino, ela está se movendo pela cidade.

Não se engane, meu amigo. Não é uma determinada roupa, vestida num determinado dia, para ir a um determinado lugar que faz de você um adorador verdadeiro. 

O tempo já chegou. O tempo em que você adora a Deus quando o faz em espírito e em verdade, com espírito e com entendimento, com honestidade e com integridade. O tempo em que você presta cultos, e não apenas os consome como um expectador passivo. O tempo em que Deus é adorado na sua vida inteira, e não apenas em gestos automáticos mimetizados dentro do prédio em que a igreja se reúne.

Mas hoje, como nos tempos de Jesus, há os adoradores verdadeiros e há os falsos. De que tipo é você?

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Há uma luz à frente

Há uma grande luz à frente. Essa luz incide sobre pessoas e objetos lançando sombras compridas lá para trás. Segundo Colossences 2:16 e 17, os rituais do santuário conforme regulamentados por Moisés no Êxodo e no Levítico, eram apenas sombras de corpos que estavam à frente. O texto menciona especificamente as festas rituais que os hebreus celebravam anualmente.

Elas eram seis: a Páscoa, a festa de pães asmos, a festa das primícias, o Pentecostes, a festa de trombetas, o dia da expiação e a festa dos tabernáculos. Bem, se cada uma delas era sombra de um corpo futuro, isso indica que temos uma luz muito forte à nossa frente ainda, uma luz em cuja direção correr é praticamente o sentido maior da vida.

O pastor José Pereira, em A cruz antes da cruz, dá excelentes razões para identificar cada um dos corpos que projetam essas sombras. Melhor dizendo, ele identifica seis momentos da atuação de Jesus em nosso favor como projetando cada uma dessas seis sombras que a recém nascida nação hebreia deveria festejar anualmente, como uma antecipação do que aconteceria. Estas são as festas, em sua ordem cronológica:

Páscoa - essa é a mais fácil de identificar. A Páscoa era uma sombra da cruz. Assim como o cordeiro era morto na páscoa para libertar o povo da escravidão, Jesus seria o cordeiro que tira os pecados do mundo.

Pães Asmos - essa festa, que era coladinha com a da Páscoa, se notabilizava pela ausência total de fermento, uma clássica representação do pecado. A morte vicária de Jesus abre espaço para a justificação, a destruição do poder do pecado em nossa vida, o sepultamento do passado acompanhado do poder para viver uma vida nova.

Primícias - essa festa também era colada nas duas anteriores. Nela, os israelitas deviam dedicar a Deus os primeiros frutos de suas plantações. O dia da festa dos pães asmos era chamado de um sábado cerimonial, e as primícias aconteciam no dia seguinte. Um domingo, portanto. A festa das primícias é, muito claramente, uma sombra da ressurreição de Jesus. É por isso que, ao referir-se à ressurreição, Paulo chama Jesus de "as primícias" (I Coríntios 15:23). Se a páscoa simboliza o sacrifício vicário de Jesus e a festa dos pães asmos simboliza o poder regenerador desse sacrifício, a festa das primícias é um eloquente símbolo da esperança de que a morte não é definitiva para os que estão em Cristo. 

Manjares - a festa de manjares acontecia 50 dias após a festa das primícias. Daí vem o nome pelo qual essa festa passou a ser conhecida no novo testamento: pentecostes. Ficou fácil, né? A festa de manjares era uma antecipação do momento, também crucial no plano de salvação do homem, em que Jesus cumpriria a promessa de enviar a Sua igreja o Espírito Santo, que não apenas convence cada crente do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8), como faria cada crente frutificar amor, paz, longanimidade, etc (Gálatas 5) e concederia o poder para pregar o evangelho ao mundo (Atos 2).

Trombetas e Expiação - Essas duas festas, que eram coladas, formavam um conjunto. A das trombetas acabava sendo uma preparação para a expiação, que, segundo a teologia adventista, é um símbolo do julgamento que acontece antes da volta de Jesus. Esse julgamento está acontecendo agora, e, segundo Apocalipse 14, ele seria precedido pelo anúncio da chegada desse tempo. A festa das trombetas, portanto, é uma sombra da primeira mensagem angélica de Apocalipse 14, que identificamos como sendo o fervor religioso que tomou conta do Ocidente em meados do século XIX, anunciando a breve volta de Jesus.

Tabernáculos - Na última festa anual, os israelitas passavam uma semana acampados em tendas, como forma de recordar o êxodo. Mas como toda celebração ritual, essa festa não apontava apenas ao passado, mas também ao futuro. Ela também era uma sombra de um evento futuro. O evento mais profetizado na Bíblia inteira, o momento em que Jesus retornará a essa Terra e "o tabernáculo de Deus estará com os homens" (Apocalipse 21:3).

Nas seis festas anuais está escrita a história da redenção do gênero humano. Dos seis eventos que elas profetizavam, cinco já aconteceram. Só resta um, e viver na expectativa desse último evento glorioso e cheio de luz coloca tudo em perspectiva. Minha escala de prioridades e afetos é impactada, a forma como utilizo meu tempo livre é impactada, meus relacionamentos são impactados e meus sonhos e projetos são transformados.

Corra para a luz.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Aquele tipo específico de medo

Agora que temer (com T maiúsculo) de repente virou uma palavra da moda no Brasil, chamo sua atenção para as centenas de vezes que ela aparece (com t minúsculo, felizmente) na Bíblia, convocando o homem a temer a Deus. "Agora, pois, temei ao Senhor e servi-o com sinceridade e verdade..." (Josué 24:14), "Temei ao Senhor, vós, seus santos, porque nada falta aos que o temem" (Salmo 34:9) e "Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque chegou a hora do seu juízo" (Apocalipse 14:7) são apenas alguns exemplos. E é curioso, porque a frase mais repetida na Bíblia é justamente "não temas". Curioso e um pouco confuso?

Como conciliar o tão repetido conselho para desenvolver temor de Deus com a face amigável e acessível mostrada em Jesus? Acho que se não entendemos esse ponto corretamente podemos estar perdendo de vista algo tão relevante a ponto de ser repetido com tanta insistência nas Escrituras...

Encontrei uma pista para o significado desse temor a Deus nos encontros que diversas pessoas tiveram com Ele ou com Seus anjos na Bíblia. Nas raras oportunidades em que as cortinas entre a nossa realidade e a realidade subjacente, a realidade dos "principados e potestades", se abriram, em geral vemos pessoas amedrontadas. Isaías e João acharam que iam morrer, Daniel desmaiou. A primeira reação de Pedro ante o milagre da pesca fantástica que inaugurou o seu chamado para se tornar pescador de homens foi "aparta-te de mim, porque sou pecador!" (Lucas 5:8).

C. S. Lewis, em sua interessantíssima e inventiva Trilogia Cósmica, imagina como teria sido o seu próprio encontro com um anjo (aqui chamado de eldil): "Todas aquelas dúvidas que me ocorreram antes de entrar no chalé relativas a essas criaturas serem amigas ou inimigas... tinham desaparecido naquele momento. Meu medo agora era de outra natureza. Eu tinha certeza de que a criatura era o que chamamos de 'boa', mas não sabia ao certo se gostava do 'bem' tanto quanto tinha suposto. É uma experiência terrível. Enquanto aquilo que se teme é algo do mal, ainda é possível esperar que o bem venha nos salvar. Mas suponhamos que, com enorme esforço, se consiga chegar ao bem, para descobrir que ele também é medonho. E se o alimento acabasse sendo exatamente aquilo que não se pode comer, nossa casa o lugar onde não podemos morar, e o amigo que nos conforta a própria pessoa que nos deixa constrangidos? Nesse caso realmente não há salvação possível: a última carta foi jogada. Por um segundo ou dois, quase estive nessa situação. Aqui por fim estava um pedaço daquele mundo para além do mundo, que eu sempre tinha suposto amar e desejar, irrompendo e aparecendo aos meus sentidos. E eu não estava gostando. Eu queria que ele desaparecesse. Queria que entre nós se colocasse toda distância possível, abismo, cortina, obstáculo e barreira. Mas não cheguei a cair nesse abismo..." (in Perelandra).

O encontro com essa outra realidade coloca em contraste nossa própria indignidade e o que vem daí é esse tipo específico de medo.

Uma coisa é certa: você não ignora algo a que você teme. E boa parte de nossa desgraça vem de simplesmente ignorar a existência e a presença constante de Deus. 

Outra coisa é certa: você não brinca com algo a que teme. Com o tempo você pode até ficar confortável na presença dEle, e desse medo nasce o melhor dos prazeres, chamado simplesmente "paz", mas você jamais vai ser leviano com Ele. Você não banaliza aquilo a que teme.

E isso é bom. 

Temei a Deus, portanto. Quanto, contudo, às demais coisas deste mundo, o escuro, a incerteza, a solidão, a mágoa, o rancor, a distância e a separação, quanto a todas essas coisas e o que mais lhe possa parecer assustador, não temas.