sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Que terminem os jogos

Eu sempre fui e continuo sendo apaixonado por jogos. Uma fatia relativamente grande de minha infância foi passada à frente de um tabuleiro de War, Detetive, Scotland Yard, Leilão de Arte, Combate, Interpol ou Banco Imobiliário e ainda hoje não rejeito jogar Colonizadores de Catan com meus meninos ou algum jogo inocente de baralho nos momentos de folga. Ainda assim, suspeito que a dinâmica dos jogos transportada para as outras áreas da vida seja responsável por algumas de nossas grandes mazelas.

A dinâmica dos jogos é simples: eu quero ganhar, e para conseguir isso, vou ter que fazer você perder. É uma questão de determinar quem é superior.

Não acredito que os jogos ensinem esse desejo a ninguém, a dinâmica dos jogos aparece muito antes do primeiro jogo. Aparece ali próxima dos dois anos de idade e você pode encontrá-la na criança pequena que chama todo brinquedo de "meu" 
(sobretudo na presença de outra ou outras crianças) ou que faz questão de falar para as outras crianças que alguma coisa sua (o pai, o carro, a casa, etc) é "mais grande".
Mathieu Nain: Allégorie de la Victoire

A dinâmica dos jogos se revela cedo e não sai de cena jamais. Está na mulher que quer que seu sapato novo seja notado, que quer ser a mais magra da festa, que se esforça pra que sua sobremesa seja a mais elogiada do almoço de família. Está no homem que estaciona duas quadras antes da igreja onde vai acontecer aquele casamento porque sabe que seu carro não é nada impressionante, que posta fotos no Facebook com ar blasé em algum paraíso tropical como se aquilo fosse sua rotina e que puxa os tapetes necessários para conseguir uma promoção e assim poder ostentar um relógio melhor. Melhor do que os dos outros, claro. Está na necessidade de “fazer um nome”, de ser desejado e admirado.

A dinâmica dos jogos está em absolutamente todo canto. Na disputa eleitoral, na queda de braço por poder dentro da família, da igreja, da empresa ou do clubinho de escoteiros. Está numa conversa aparentemente pueril entre amigos (quem tem a história MAIS engraçada? quem sabe MAIS de economia ou política? quem tem a informação privilegiada que NINGUÈM mais tem? quem tem o filho mais lindo cute-cute ou mais obediente?) Está na creche e no asilo. É onipresente. É ela que nos faz amar a história de Davi e Golias e coçar a cabeça desconfiados de histórias como a de Jó, João Batista e Tiago.

É ela que nos faz amar a história de Davi e Golias e coçar a cabeça com histórias como a de Jó, João Batista e Tiago.

Nosso apego à dinâmica dos jogos revela a quem pertencemos. Revela quem manda nessa bagaça. Falando de Satanás, a Bíblia diz: "E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono..." (Isaías 14:13). Pura dinâmica dos jogos. Em contraste (e que contraste!), Cristo “tinha a natureza de Deus, mas não tentou ficar igual a Deus. elo contrário, ele abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de servo, tornando-se assim igual aos seres humanos. E, vivendo a vida comum de um ser humano,ele foi humilde e obedeceu a Deus até a morte — morte de cruz” (Efésios 2:6-8 NTLH).

O exemplo eloquente de Jesus mostra que todos estamos mesmo disputando um jogo, um jogo desesperado, de vida ou morte. Mas o oponente não são os outros, somos nós mesmos. O ego é o inimigo a ser batido, pisado e surrado. É preciso perder para ganhar.

Cristo está convidando a gente para brincar de um jogo totalmente diferente hoje. O jogo do “esvaziar-se”. Quem quer brincar põe o dedo aqui!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Tão cedo

Quando minha avó faleceu, assassinada por um assaltante, embora eu fosse bem pequeno lembro que num dos dias seguintes meu avô se assentou à sua velha máquina de escrever e escreveu um poema chamado "por que você se foi tão cedo?"

Mas ela já era avó. O que dizer do choque do encontro inesperado com a morte muitos anos antes? O que o choque com nossa vulnerabilidade, fugacidade e fragilidade nos ensinam?

Esta semana o pequeno Asafe, de apenas 9 anos de idade, faleceu vítima de uma bala perdida no Rio de Janeiro. Asafe é um nome incomum. O Asafe mais famoso foi o líder da música designado pelo rei Davi para comandar a adoração a Deus (I Crônicas 16:7). Acho que não estou especulando demais ao apostar que os pais do Asafe carioca sonhavam que um dia ele seria um músico a serviço de Deus. E, no entanto...

Esta semana faleceu também Joyce, aos 32 anos de idade. Muitas pessoas acompanharam sua luta inspiradora contra um severo câncer de coluna e admiraram as enormes cicatrizes que ela ostentava como troféus das vitórias que havia alcançado. Num dia ela está ativa, celebrando a vida e fazendo posts políticos nas redes sociais, e de repente alguém anuncia que ela descansou.

Quero pedir licença para copiar o texto que ela escreveu em seu perfil do Facebook no último dia 31. E, se deixo de fazer qualquer comentário ao final, qualquer tentativa de aplicação ou de tirar uma moral disso tudo, gostaria que você entendesse isso como meu minuto de silêncio.

"2014 está acabando... E me lembro de como foi importante para mim esse ano que passou... Minhas metas eram: me alimentar melhor (ok), fazer exercício (ok), perder 3 Kg (ok) e passar menos tempo no hospital (kkkkk piada né). O mais interessante disso tudo, é que comecei o ano super empenhada e de olho na meta... Realizei aquelas que dependiam de mim, mas nós NÃO temos o controle da nossa vida, e um susto aconteceu no meio do caminho... Bem no meio mesmo... Em junho, No dia da abertura da copa do mundo... Fiquei no hospital até setembro... Passei o restante do ano tentando me recuperar. Comia o que conseguia, exercício virou fisioterapia e, os 3 Kg viraram 15... Será que deu TUDO errado?! 

GARANTO pra vocês que meu ano foi um SUCESSO! Só tenho o que agradecer pois graças a Deus estou viva!!! Sobre as minhas metas? Deixa elas pra lá... Fiz muitos amigos, conheci novas pessoas, senti que sou MUITO amada e que não é da boca pra fora quando dizem "pode contar comigo". Quantas pessoas passam pela vida sem ter a oportunidade de se sentir amada... Quantos vivem um dia após o outro sem aprenderem nada de novo... Em 2014 aprendi muito! Aprendi a ter paz nas dificuldades, a perseverar, a confiar que Deus está no controle. Aprendi que felicidade é um estado de espírito e que independe de qualquer coisa. 

Minhas metas para 2015?! SAÚDE E PAZ, que o resto a gente corre atrás!!! VENHA LOGO, chegue GLAMUROSO e me SURPREENDA, BEM VINDO 2015!!!"

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Je suis tolérant

No estacionamento em que paro o carro quase todos os dias há uma enorme placa dizendo "não temos tolerância" e, embora eu entenda o que ela quer dizer, não consigo deixar de pensar toda vez que a leio: e quem tem?

As notícias que vieram na última semana e meia da França dividiram as opiniões na minha timeline. Enquanto muitos se apressaram a registrar o "je sui Charlie", o slogan de apoio ao "modo ocidental de viver", como se cada um estivesse desenhando um alvo na própria testa e dizendo aos radicais islâmicos: "vocês vão ter que acabar com todos nós" (tenho medo de imaginar a resposta que eles dariam), outros desciam o lenho nas próprias vítimas do atentado dizendo que com a fé não se brinca e que sua irresponsabilidade atraiu insegurança a todo o Ocidente.

É evidente que para todo mundo que professa uma fé e, consequentemente, é constantemente julgado por isso, não vai morrer de simpatia por cartunistas que ridicularizam a fé de quem quer que seja, e aí pouco importa a brutalidade da resposta, em que desenhos foram respondidos com balas na cabeça - parece mesmo estar justificado condenar os cartunistas da Charlie Hebdo. 

O curioso nessa história toda é o fato de que foram os cristãos da Reforma Protestante, bem familiarizados com o calor das fogueiras acesas para "hereges" como eles, e cientes das diferenças que havia mesmo entre eles, que desenvolveram o conceito de tolerância e respeito absoluto à liberdade de pensamento e de expressão do mesmo. Nesse sentido, foi a Reforma quem criou as condições que tornaram possível a Revolução Francesa insculpir o "liberdade" como uma das pontas de seu tripé ideológico. Parece que nossos antepassados perceberam algo que não nos parece mais tão certo: se eu quero tolerância para minhas "esquisitices", preciso tolerar as dos outros. Então a pergunta que se impõe é: Jesus Cristo, vivendo hoje aqui, toleraria a Charlie Hebdo? Ele defenderia o direito dela existir?

Chesterton afirmou que "o teste para uma boa religião é se você pode fazer piada sobre ela" e aqui não quero fazer nenhuma oposição de cristianismo e islamismo, mas apenas observar que o que Chesterton, um vigoroso apologista cristão, chama de "boa religião" é a religião que respeita a liberdade plena de todos os que não partilham dela. Nesse sentido, a sua religião é "boa"?

Fico aqui pensando se uma pesquisa fosse feita entre não cristãos com esta pergunta: "cristãos são tolerantes?" e, considerando a atitude de expoentes cristãos de nosso país como Silas Malafaia e o posicionamento da bancada evangélica do Congresso já posso imaginar a resposta.

Que a placa de nossa igreja seja "Temos tolerância". Na esperança de assim alcançarmos ser tolerados.
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O que você tem

O que você tem aí com você? 

Se você tiver cinco pãezinhos e dois peixinhos, já sabe que Deus pode fazer muito disso.

Se, por outro lado, você tiver um boi assando e um monte de comida para acompanhar, talvez não vá se sujeitar a passar o dia na montanha ouvindo-O falar. Pela perspectiva da eternidade, pode ser que valha a pena ter só uns pães e peixes.

O que você tem aí? 



Só podemos dar do que temos, então o que se pode esperar de você em 2015? O que você tem?

Quando Pedro encontrou aquele paralitico na entrada do templo ele disse o que ele não tinha (e que era tudo o que aquele sujeito se permitia desejar): "Não tenho prata nem ouro"... (Atos 3:6).

"O que eu tenho te dou."

Pedro deu o que tinha.

Mas o que Pedro tinha?

"Em nome de Jesus Cristo de Nazaré, eu digo: Ande!"

E o sujeito que tinha como máxima pretensão ganhar uma moeda, ganhou suas duas pernas.

O que Pedro tinha? A cura?

Não. "Foi o nome de Jesus que curou este homem - e vocês sabem que ele era coxo antes. A fé no nome de Jesus, a fé que vem por meio dele é que produziu esta cura perfeita, como todos podem ver" (v. 16).

O que Pedro tinha para dar era o nome de Jesus, mas a relação que ele tinha com Jesus era de tal modo substanciosa que nos lábios dele Deus se tornava uma ferramenta para fazer maravilhas.

O que você tem aí com você?

O que você realmente deseja ter?

Refaça seus planos para este ano enquanto ele ainda dá seus primeiros passinhos.