sexta-feira, 28 de março de 2014

Pagando a multa

Esta semana descobri, graças a compartilhamentos no Facebook, uma reportagem veiculada originalmente em dezembro de 2012 pela DFW, uma emissora de TV local do Texas, a respeito de um inesperado e curioso ato de caridade.

Hayden Carlo, um jovem comerciário, pai de dois filhos, enfrentava dificuldades financeiras profundas, a ponto de não conseguir pagar o licenciamento de seu carro. Numa batida de rotina, foi parado por um oficial de polícia da cidade de Plano que detectou o problema. Hayden disse que não estava fora da lei porque queria, mas porque simplesmente não via solução, não tinha o dinheiro. O oficial então emitiu uma multa no valor de U$ 100,00 e a entregou para o rapaz. Ao abrir o canhoto da multa, encontrou algo mais lá dentro: uma nota de U$ 100,00!

O episódio me pareceu familiar. Em "95 teses sobre justificação pela fé", obra clássica de Morris Venden, ele inventa essa história estapafúrdia sobre um pastor pego por um radar de estrada acima da velocidade. Interpelado pelo oficial, o pastor explica que está vindo de um casamento e atrasado para um funeral e só por isso esteve acima da velocidade, com isso querendo angariar a simpatia do policial e comovê-lo a "deixar a coisa para lá". No entanto, uma infração foi cometida. Fingir que ela não aconteceu não é uma opção para o policial. Ele emite a multa mas, sensibilizado pela história do pastor, vai até a cidade e ele mesmo a paga.

Curioso como a vida imitou a arte no episódio de Plano. A história tem girado o mundo desde 2012 porque a atitude do policial é algo incompreensível e nos deixa maravilhados. Se a ideia era ajudar o rapaz, por que ele simplesmente não deixou de aplicar a multa? Por que deu a multa mas tirou do próprio bolso o dinheiro para paga-la? Ao ser entrevistado, o oficial em questão respondeu, simplesmente: "me pareceu a coisa certa a fazer".

A atitude de Jesus Cristo naquela cruz é incompreensível e nos deixa maravilhados. Ele não "faz de conta" que nossos pecados não aconteceram. Ele dá a multa mas vem pagá-la. A justificação, que é o primeiro estágio da salvação, é de graça, não custa nada para mim como não custou nada para Hayden Carlo, mas ela custa para o nosso Salvador. Aliás, para Ele ela custou TUDO.

Muito raramente neste mundo vemos reproduzida a graça em cantos de onde menos esperamos. São bilhetes deixados pelo Salvador para nos fazer olhar para cima. Para nos fazer olhar para cima e refletir: que resposta merece alguém que faz o que Ele fez por mim?

sexta-feira, 21 de março de 2014

Eu e o Deus que eu não queria

O fato, caros amigos, é que Deus é Deus e não uma projeção do que gostaríamos que Deus fosse. Ele às vezes silencia. Ele tem o tempo dEle, tão diferente do nosso. Às vezes Ele fecha portas incríveis e parece abri-las para infiéis, gente que absolutamente não mereceria. Ele responde "não" a orações que pra nós é óbvio que mereceriam um retumbante sim. Ele às vezes parece se esquecer de nós e com dolorida frequência permite que o mal triunfe, que a corrupção grasse, que o crime valha a pena. Noutras parece ter prazer em perdoar gente que preferiríamos ver bem castigados. E Deus nos pede pra imitá-lo... até nisso. Ele pede pra se relacionar com Ele todo santo dia. Pede pra amar os outros mesmo quando as coisas não estão tão bem pra nós. 

A Bíblia tem algumas histórias de pessoas que tinham expectativas ilegítimas sobre Deus.  Eles esperavam que Deus fosse diferente do que de fato é. Elias, Jonas, os discípulos... Elias queria que Deus fizesse da vida dele um monte Carmelo eterno. Quando, logo em seguida àquele fato incrível, Jezabel disse que o mataria, ele fugiu e quis morrer. Jonas queria um Deus que não perdoasse Nínive e por isso se indignou e quis morrer. Os discípulos queriam um rei que fulminasse os inimigos, e não um que Se deixa zombar, cuspir e matar e por isso viveram um sábado de perplexidade e luto. Para todos esses o resultado de esperar um Deus diferente do Deus real foram momentos de depressão e angústia.  
Jesus disse: "se me amais,  guardareis meus mandamentos" (João 14:15) e a gente pensa que o difícil aí é guardar os mandamentos. Não, não. Pressinto que o difícil mesmo seja amar um Deus que não age como gostaríamos que agisse, um Deus que tem personalidade, que conhece mais do que conhecemos e exercita Sua soberania. Se você é capaz de amar a Deus como Ele realmente é - e a verdade é que somos pequenos demais para saber o que Deus realmente é em toda sua extensão - e a aceitar dEle o que Ele quer dar e não o que você quer receber, guardar os mandamentos passa a ser fácil. Para todos que assim fazem, Ele diz que Seus mandamentos não são penosos. E de fato não são.
E você? Você ama Deus como Ele é ou ama só enquanto Ele dá o que você pede ou age como você acha que deveria agir?  

sexta-feira, 14 de março de 2014

Ele reina

Um bom advogado, ao redigir um contrato, é aquele que consegue prever toda e qualquer possível situação e antecipa exatamente o que deve acontecer quando e se ocorrer. Recentemente o professor de Direito norteamericano Alan Siegel propôs que nenhum contrato deveria ter mais do que uma única folha. Aquele monte de cláusulas e antecipações de situações seriam inúteis se simplesmente as partes agissem de boa fé uma para com a outra. Bem, a ideia ainda não ganhou muitos adeptos. Mesmo porque, um bom advogado quer sempre mostrar que é bom.

E aquele monte de cláusulas é frequentemente uma forma de fugir às obrigações. Eu faço isso, você faz aquilo, MAS, se acontecer isso, isso e isso eu não preciso fazer o que me obriguei ou você precisa fazer além daquilo, aquilo outro também. Um bom advogado também tenta enfiar um monte de cláusulas assim em benefício de seu cliente e limar as cláusulas assim em benefício da outra parte.

Em nossa relação com Deus também temos uma porção de cláusulas que nos desobrigam de nossa parte na aliança (contrato) que fizemos com Ele, e que consiste basicamente em amar a Deus sobre tudo (inclusive observando Sua lei) e ao próximo como a nós mesmos. SE eu estiver sem dinheiro ou tempo, me permito negligenciar minha relação com Ele. SE estiver em uma fase mais conturbada ou SE isso prejudicar minha ascensão na carreira, me permito negligenciar a guarda do sábado. Existe a cláusula "ninguém é de ferro", a cláusula "ninguém é perfeito", a cláusula "Deus entende", a cláusula "mais tarde eu cuido desse aspecto", a cláusula "é só uma fase" e a minha preferida: a cláusula "todo mundo está fazendo", com sua irmã, a cláusula "eu já estou bem melhor do que a maioria das pessoas".

Mas Jesus Cristo disse que o reino de Deus chegou. E, se o reino de Deus chegou, é que o reino anterior, aquele no qual Satanás, com todas as suas zonas cinzentas, senões e SEs, foi derrotado. Essa era a boa notícia. Esse era o evangelho. O reino de Deus chegou. Podemos e devemos viver dentro dele. E nele Deus vence. Nele Deus ganha, e reproduz em nós aquela imagem e semelhança perdida, e nos faz poderosos para não inventar cláusulas que absolutamente não existem no contrato. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou (Romanos 8:37). Tudo posso naquele que me fortalece (Efésios 4:13). O vencedor de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte (Apocalipse 2:11). 


O contrato de Jesus Cristo tem uma só página. Acrescentar qualquer cláusula aí é escolher a derrota.

sexta-feira, 7 de março de 2014

O mito do pé na jaca

Existem algumas verdades absolutas que, se você olha bem de perto, desmoronam. Uma delas está na origem do Carnaval.
A mentalidade mais ou menos universal é de que todos precisam extravasar, largar a razão, as máscaras sociais de lado, nem que seja vestindo outras mais divertidas por cima. O carnaval é a festa da carne, nascida na tradição católica como uma válvula de escape necessária para todo bom cristão que, passado ele, entraria num período de abstinência e contrição logo em seguida, e que dura até a Páscoa. Assim, enfiemos o pé na jaca antes de nos mortificarmos por 40 dias...
Você talvez nem goste de Carnaval e não aproveite a data para apagar os limites morais que finge respeitar ao longo do ano, mas pode adotar essa política "pé na jaca" em muitas outras esferas. Pode de quando em vez exagerar na comida. Pode de quando em vez exagerar na bebida. Pode de quando em vez exagerar no que vê na Internet ou na TV. Tudo em nome da válvula de escape necessária porque ninguém é de ferro.
Para essa mentalidade Deus diz simplesmente: é possível amar o que é puro, verdadeiro, honesto, justo, puro e amável (Filipenses 4:8). Você não precisa se ocupar dessas coisas como uma obrigação, ao contrário, você pode ter prazer nelas. Elas não vão oprimi-lo a ponto de você precisar de quando em vez fugir delas para se sentir vivo. Para mim e para você Deus diz: você pode ser alto tão mais alto! Você pode ser tão melhor do que essa criatura esquálida que precisa enfiar o pé na jaca de quando em vez...!
Alguns versos antes Paulo afirma que Deus é quem opera em nós o querer e o efetuar. Se nós não queremos, é porque não estamos deixando Deus operar. Nos deixamos seduzir pelo fugaz prazer da sensação do pé dentro dos gomos da jaca... Sensação que invariavelmente passa. E nos deixa menores do que éramos antes.