sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Nós vimos a sua glória II

E se você de repente estiver frente a frente com a glória? Então você pode vê-la e pasmar, ou você pode vê-la e não entender nada ou você pode nem ver.

João disse que "o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai" (João 1:14). Muitos acreditam que ele estava aqui se referindo à experiência no monte da transfiguração, quando a face de Jesus brilhou com toda a glória e ele foi um dos três que testemunharam o fato.

Mas será que o "nós vimos" do verso se refere a apenas esses três ou o evangelista tinha um outro tipo de glória em mente? Um tipo de glória que se revela com Cristo habitando no meio das pessoas cheio de graça e de verdade? Pode ser que exista essa coisa absurda de uma glória sutil?

"Rogo-te que me mostres a tua glória", pediu Moisés (Êxodo 33:18), e a resposta que recebeu foi: "Eu farei passar toda a minha bondade diante de ti". Seria bondade um bom sinônimo para glória? Uma coisa eu garanto, não seria o termo que eu intuitivamente buscaria para isso. Mas se glória é só brilho e trombetas e tremor de terra e seja lá o acontecimento pirotécnico que você preferir, então porque na estrada para Damasco houve só um converso? O relato dá conta de que Saulo se tornou Paulo, mas os que iam com ele ouviram a voz mas não viram ninguém e então sumiram da história.

A glória universal, a glória inequívoca, a glória inignorável está reservada para o dia do retorno de Jesus, quando "todo olho o verá" (Apocalipse 1:7). Até lá, ela será enxergada por uns e ignorada solenemente por outros. Deus poderá desfilar toda Sua bondade e a pessoa não terá o mínimo cheiro da glória, porque estará olhando para outro lado, porque estará determinado a não crer.

Apocalipse 18 afirma que um dia um anjo iluminará a Terra toda com sua glória. Esses anjos em Apocalipse têm sido interpretados como símbolos da atuação da igreja no mundo. E, se glória é bondade, a profecia é de que um dia a Terra toda será impactada pela bondade da igreja. Não por sua teologia. Não por seus preconceitos. Não por sua esquisitice latente. Não, seguramente não, por sua hipocrisia.

Eu tenho essa pequena ambição, de testemunhar isso. Eu tenho vontade de não só ver a glória do Pai, mas também de ser a glória do Pai para alguém. E, para isso, minha oração é para que a metamorfose aconteça e eu possa ser a bondade que desfilará inteira perante os escolhidos de Deus.

Feliz sábado, @migos!
Marco Aurelio Brasil, 31/01/14

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Imagine só

O retorno do peregrino é o primeiro livro escrito por C. S. Lewis após sua conversão ao cristianismo, por volta de 1930. Segundo a resenha que eu li, não é um livro muito fácil de ler, nem muito regular, mas a premissa me pareceu interessantíssima. Lewis faz sua visão particular do clássico de Bunyan, O peregrino, uma alegoria da conversão em que seu personagem vai andando por uma estrada rumo à fé. Na visão de Lewis, de um lado da estrada ficam os campos da razão, do outro os da emoção; assim, se ele se desvia muito da estrada acaba incorrendo em extremos que o afastam do destino final. Na alegoria de Lewis, a história não acaba quando o peregrino chega a seu destino, ao contrário, ele toma o caminho de volta e de repente tudo o que ele viu no caminho na ida agora enxerga como realmente é. A fé, defende Lewis, nos dá lentes para ver a realidade como ela é de fato.

Muito se fala dessa dualidade de razão e emoção e estou de acordo com Lewis de que o equilíbrio, o caminho reto e mais curto para a fé, está no meio dos dois, mas há outras ferramentas para chegar até ela sobre as quais falamos pouco. Uma delas é a imaginação. A imaginação que teve um papel importante na conversão do próprio Lewis e que o levou a escrever O retorno do peregrino, além de outras obras, como as famosas Crônicas de Nárnia e o interessantíssimo Cartas do diabo a seu aprendiz.

Há alguns anos comprei um livro chamado Muito mais que palavras, em que escritores cristãos falam sobre os autores que mais os influenciaram. Eu esperava encontrar capítulos sobre o próprio Lewis, Henri Nowen, Bonhoefer e outros famosos escritores de temas cristãos, mas me surpreendi achando capítulos sobre Shakespeare, Tolkien, Dostoievski e Hans Christian Andersen. 

E eu me surpreendi porque, sendo adventista do sétimo dia, tenho uma herança essencialmente racionalista. Minha igreja nasceu no auge do racionalismo, num contexto rural, em que expressões artísticas em geral, à exceção da música, são vistas com desconfiança. Como se a imaginação fosse instrumento do diabo para nos afastar da Bíblia. Para muitos, ler qualquer coisa que possa ser caracterizado como ficção é mal visto. 

E, no entanto, o Criador nos deu o poder da imaginação. Nos deu essa potencialidade magnífica porque ela pode ser um instrumento de vida. Assim como pode também ser um instrumento de morte, se a ficção se torna um deus para a pessoa ou se ela escolhe um certo tipo de ficção, cada vez mais popular, que apresenta uma escala de valores completamente degradada.

Você consegue imaginar o Céu ou a volta de Jesus com imagens que não saem de alguma ilustração que tenha visto? Você consegue exercitar sua criatividade e pensar em uma ilustração, uma parábola, que consiga transmitir à pessoa ao seu lado uma verdade essencial da palavra de Deus de modo que ela entenda? Exercitar a imaginação pode ser uma experiência iluminadora, como exercitar a razão e a inteligência emocional também. Solte sua imaginação na direção do Criador e veja o que acontece.