quinta-feira, 16 de abril de 2009

Na avenida

Existem boas razões para não se deixar uma criança pequena atravessar sozinha uma avenida muito movimentada. É que, pelas experiências que teve, ou melhor, pela escassez de experiências que teve, ela não consegue calcular bem o risco que uma tal temeridade representaria. Outra boa razão é que a criança também não consegue entender bem a mecânica do tráfego. Ela não entende esse negócio de sinal verde, sinal vermelho, veículos que transitam para cá, veículos que transitam para lá. E, para terminar, elas não calculam bem o binômio velocidade/distância.

O exemplo é singelo mas eficaz para entendermos nossa grande missão neste mundo. Sei que parece pretensioso falar assim, mas deixem-me ser pretensioso hoje, por favor. Aqui, outra vez, será muito útil lembrar a insistência de Jesus em nos comparar a crianças. Ou ovelhas, que também não se sairiam bem atravessando avenidas sozinhas. O que está contido aqui é o fato de que há uma infinidade de coisas que não entendemos e que não sabemos e que é impossível que venhamos a conhecer e entender. Por mais avanço que a ciência tenha realizado nas últimas décadas ou séculos, ainda somos o mesmo grão de pó flutuando num universo em expansão.

Nós gostaríamos de ter respostas. Mas que resposta ajudaria uma criança a calcular bem a questão da distância e da velocidade do veículo que se aproxima? Que resposta seria hábil o suficiente para ela coordenar devidamente os diversos fatores de atenção que uma travessia requer?

Você não gasta seu latim explicando tudo isso para a criança. Você pega na mão dela e atravessa junto. Você, quando muito, dá orientações gerais, como “ao atravessar a rua, olhe para os dois lados”, esperando que isso faça sentido oportunamente, quando essa criança já tiver atravessado a rua segurando sua mão muitas vezes.

Estamos atravessando uma enorme avenida, cortada por enormes jamantas cujo destino e o sentido em que trafegam não dá para entender, não nos parece lógico nem há como parecer, porque é a primeira vez que estamos chegando à beira de uma avenida.

O Pai grita. Avisa do perigo. Mas está do nosso lado e estende a mão. Nossa grande missão neste mundo é pegar essa mão. O nome disso é fé. Eu tenho medo, me assusto, não entendo, mas vou segurando na mão dEle. O outro nome disso é confiança e a minha missão de vida é aprender a fazer isso.